Sabe, mãe...
Há dias em que me sinto tão perdido! Parece até que nunca mais hei de achar meu caminho. Há dias em que, francamente, eu me questiono até se vale a pena seguir.
Quantas vezes eu me pergunto por que razão, afinal, continuo lutando, se tantas dores já tive que suportar! Foram tantas e tão doídas que mal posso acreditar que sobrevivi.
De repente, uma alegria inesperada me enche de esperanças e penso que, enfim, tenha vindo pra ficar. Mas quando eu penso que consegui retê-la, prendê-la, trancafiá-la , a alegria vai embora, mãe!... Escapa como areia por entre meus dedos, e eu fico segurando o vazio e o nada... e me sinto-me então mais sozinho e aflito do que antes.
O mundo é tão volúvel, e eu preciso tanto de certezas, mãe! Eu tenho tanta necessidade de um amor que seja imutável, inabalável, inesgotável! Que coisa alguma seja capaz de estremecer, que nada consiga macular, que nem o tempo possa consumir ou enfraquecer! Dizem que Deus é esse amor, mas... Não sei se a culpa é minha, porém há momentos em que procuro tanto por Ele, e minha preces parecem se perder no vazio.
Sabe mãe... Já muito amei e fui amado nesta vida. E os carinhos que ganhei foram sinceros, e os lábios que me beijaram, doces e verdadeiros. Mas coisa alguma me fez sentir tão seguro, nem jamais tive em beijo algum a sensação de eternidade que me dá o teu amor.
Mesmo tão grande e tão crescido, há momentos em que só tu és meu abrigo, e minha alma cansada vai em busca do teu colo e anseia por teu abraço.
Quando me sinto em perigo, é por ti que chamo em pensamento, como eu fosse ainda um menino assustado e tonto.
E quando penso que me amas, com este amor infinito e tão intenso, sinto-me forte para enfrentar a rudeza do mundo, com sua face às vezes tão hostil e traiçoeira.
Talvez eu me engane quando penso que Deus não ouve minhas preces. Às vezes, quando me olhas, tenho a nítida impressão de que é Ele que me enxerga por teus olhos, e talvez tenha tomado a forma de teu corpo, mãe, para me proteger...